Ainda hoje, sobre a questão da Máfia, a Igreja siciliana está dividida. Claro, não é mais aquela de trinta ou quarenta anos atrás, quando o arcebispo de Palermo, sua Eminência Ernesto Ruffini, ao ouvir a pergunta: “Eminência, o que é a Máfia”, feita por um jornalista, respondeu: “uma marca de detergente, eu acho”.
Sua Eminência Ruffini
Sua Eminência fazia visitas, de vez em quando, na região da Favarella, no território de Michael Greco, mafioso siciliano chamado “o Papa”. Além disso, não disse uma palavra quando foram presos alguns dos seus frades, acusados de conspiração, assassinato, extorsão e violência privada.
Ele se alinhou ao silêncio, pretendido por Salvo Lima e Vito Ciancimino, (políticos mafiosos sicilianos na cidade de Palermo). Sua Eminência Ernesto Ruffini não disse nada, nem mesmo quando a cidade estava sangrando pela guerra da Máfia entre as Famílias Greco e La Barbera.
Foi famoso seu discurso voltado a minimizar o fenômeno mafioso: “Uma propaganda cruel…, que acabou por fazer acreditar…, que os sicilianos em geral são mafiosos, levando a denegrir uma parte importante da nossa pátria.” Apesar disso, nas esquinas das ruas saltavam para o ar diversos carros, recheados com explosivo TNT.
O Vaticano responde
Depois de mais um massacre, o Vaticano percebeu o que estava acontecendo em Palermo e o secretário de Estado da Santa Sé envia à Sua Eminência Ruffini, uma educada carta para “sensibilizar” sobre a questão da Máfia.
“Ao Senhor Cardeal Ernesto Ruffini, Arcebispo de Palermo. Permita-me apresentar a seu prudente juízo para ver se não é o caso de que, mesmo pela parte eclesiástica, seja promovida uma ação positiva e sistemática, com os meios de que lhe são próprios – de educação, de persuasão, de desaprovação, de reforma moral – para dissociar a chamada ‘mentalidade mafiosa’ daquela de religião e para confortá-la a uma observância mais coerente dos princípios cristãos. (Monsignor Angelo Dell’Acqua, 05 de agosto de 1963, do arquivo histórico da Arquidiocese de Palermo).
Surpreende-me um pouco que podemos supor que a mentalidade da Máfia, assim chamada,Máfia esteja associada com aquela religiosa. É uma suposição caluniosa posta em circulação, especialmente fora da ilha da Sicília, dos sociais-comunistas, pela qual acusam a Democracia cristã de ser apoiada pela Máfia, enquanto defende os seus interesses econômicos, em concorrência com os próprios organizadores mafiosos ou considerados como tais.” (Sua Eminência o cardeal Ernesto Ruffini Monsignor Angelo Dell’Acqua, 11 de setembro de 1963, do arquivo histórico da Arquidiocese de Palermo).
A virada do Cardeal Salvatore Pappalardo
O primeiro ponto de virada sensacional na igreja siciliana foi com o Cardeal Salvatore Pappalardo e seu discurso.
Intenso e doloroso, violentíssimo contra os mafiosos. Quase oito meses depois, o Cardeal Pappalardo entrou no presídio Ucciardone para celebrar, como todos os anos, o preceito de Páscoa com todos os detentos. Todos os chefes da Cosa Nostra abandonaram o encontro e o Cardeal ficou sozinho na capela da prisão. Um sinal dado dos mafiosos para a Igreja.
A partir daquele momento, ele foi muito mais cauteloso em seus sermões. De acordo com alguns, foi precisamente por causa dessa mensagem mafiosa.
Igreja Vs Máfia: A pesquisa
Contra a Máfia tem ocorrido diversas frentes pela Igreja:
- uma parte abertamente discordante;
- uma parte que permanece indiferente;
- uma que se revelou cúmplice, ou, pelo menos, culturalmente ligada ao sistema.
Uma pesquisa recente de Alessandra Dino, socióloga de Palermo, que estuda com profundidade a dinâmica da Máfia, mostra que na Sicília há uma igreja com inúmeras vertentes, quando se trata da Máfia e dos mafiosos. Sua pesquisa, que se tornou um livro muito interessante, A Máfia devota, tem como base um questionário distribuído entre os religiosos de Palermo.
Conheça alguns dados:
- 15% dos entrevistados mostram que conhecem bem o assunto e têm um grande arsenal de informações sobre o que é realmente a Máfia;
- 20% têm conhecimento por “boatos” e, por costume, expressam opiniões agradáveis, que vão ao encontro da associação judicial antiMáfia;
- os 65% restantes dos religiosos pensam que a Igreja não deve se ocupar com a Máfia e antiMáfia e que, de qualquer forma, os “Poderosos Chefões” não representam uma ameaça direta.
O que acha dessas descobertas? Quer saber das últimas notícias sobre a Máfia? Então, escreva agora mesmo para a gente!
Parabéns! muito interessante sua pagina, conhecimento sempre e tudo! quando tiver um tempo leia sobre a morte de: JOÃO PAULO I Em Agosto de 1978. Apos 33 dias de sua posse como líder máximo da Igreja Católica o encontraram morto, inúmeras teorias surgiram…A que se tornou mais aceitável e que ele não participou de acordos entre a: MAFIA ITALIANA, MAÇONARIA (P2), IGREJA CATÓLICA E O BANCO AMBROSIANO a teoria ficou forte quando outras pessoas foram encontradas mortas e acusadas de fraudes como o Arcebispo Paul Marcinkus diretor do Banco do Vaticano e que tinha círculos de amizades com a: Mafia e a Maçonaria, o Presidente do banco a época: Roberto Calvi (Banqueiro de Deus) encontrado enforcado em uma ponte, sua secretaria: Graziella Corrocher se jogou pela janela do Banco em Milão. Essa teoria (Mafia,Igreja,Maçonaria) aparece também no filme: O poderoso Chefao III, espero ter ajudado tente fazer uma matéria sobre o assunto. Abraços!
Lemos a respeito, meu caro leitor. Muito obrigado pela sugestão. De fato, realmente em 1978 morreram diversos cardeais por envenenamento, e o Vaticano falhou até mesmo em suas ratificações sobre o caso de John Paul the First… Quanto a esse caso ter sido explorado no filme 3 de The Godfather, isso só prova o quão possivelmente a máfia realmente tenha contratado um sicário pro caso. Bom, no momento estamos com um enfoque mais contemporâneo no site, mas, fique atento que pode pintar uma matéria a respeito, sim. Un abbraccio !