ROMA/PALERMO — A morte do chefe da Máfia Siciliana, Salvatore “Toto” Riina, na sexta-feira [17/12/2017], não marca o fim do clã mafioso La Cosa Nostra, mas é improvável que o grupo criminoso permita que seja concedido poderio semelhante a um só homem, assim, novamente; quem o disse foi um alto magistrado e ex-mafioso.
Riina, com 87 anos, morreu em um hospital de Parma, a cidade do norte da Itália em que estava cumprindo 26 sentenças de prisão perpétua por assassinatos cometidos entre 1969 e 1992. (Saiba mais sobre Toto Riina clicando aqui)
“O fim de Riina não é o fim do Cosa Nostra”, disse o magistrado da capital siciliana, Palermo, Francesco Lo Voi, à Reuters.
“O que resta a ser entendido é se os homens da Cosa Nostra buscarão um sucessor direto ou uma nova estrutura organizacional”, disse Lo Voi.
Gaspare Mutolo, que admite ter estrangulado cerca de 20 pessoas, concorda. Mutolo, agora com 77 anos, tornou-se testemunha do estado no início da década de 1990 aos 51 anos e passou a ser uma testemunha-chave em dezenas de casos relativos a máfia.
Ele partilhou de uma cela prisional com Riina, na década de 1960, e tornou-se seu guarda-costas e motorista de confiança, depois. Mutolo, que ainda usa uma balaclava (ou, como popularmente conhecida, toca ninja) para esconder sua identidade das câmeras, sentiu “pena” quando ouviu que seu antigo amigo e companheiro de cela havia morrido, disse ele.
“Ele era um amigo. Ele me ajudou. Até mesmo já salvou a minha vida. Eu o via um tanto como uma figura paterna”, disse Mutolo a repórteres estrangeiros em Roma.
A morte de Riina muda pouco na Sicília, disse ele: “Palermo ainda tem a máfia”.
{Como podem perceber, as máfias não acabam, independentemente da morte de seus membros-chave, líderes e etc., devido à sua forte estrutura organizacional. Pode-se tirar diversas lições similares com tal estrutura, que atravessa séculos incólume.}
CASOS EM SIGILO: FEITOS ÀS ESCONDIDAS
Conforme diversos casos recentes demonstram, a máfia ainda extorque empresários na ilha [de Sicília], e ainda busca ganhar lucrativos contratos públicos através de transações “feitas no porão” com políticos e burocratas corruptos.
“Não posso imaginar a política sem a máfia”, disse Mutolo.
Mas o futuro da Cosa Nostra sem Riina – cuja brutalidade prejudicou a confiabilidade da organização por conduzir mafiosi como Mutolo para as mãos do Estado – é incerto.
A máfia da Calabria, conhecida como “Ndrangheta”, teve poucos vira casacas ou traidores, e assumiu as rotas do tráfico de drogas, anteriormente dominadas pelo Cosa Nostra. [Wikipédia sobre Ndrangheta: do grego andragathía, heroísmo e virtude, ou talvez do grego andros agathos, “homem bom”]
Os calabreses [habitantes de Calábria, ao sul da Itália] são agora os principais importadores de cocaína da América do Sul para a Europa e América do Norte. Mesmo os políticos têm cautela quanto a fazer negócios com a máfia siciliana agora, disse Mutolo.
“A Cosa Nostra não é o mesmo que era na década de 1980, principalmente por causa das reviravoltas”, disse Mutolo. “Os Calabresi assumiram as rédeas porque são mais confiáveis”.
O clã mafioso La Cosa Nostra sempre teve uma estrutura tipo-militar, mas antes de Riina não havia um único “chefe dos chefes”. O poder era dividido por território, e os respectivos chefes locais se reuniam numa assim chamada “Comissão”, visando discutir estratégias e resolver disputas. Sem chefe único.
Mas Riina fez-se o ditador do La Cosa Nostra.
“Não há nada de concreto sobre se o Cosa Nostra virá a ver o fato de levantar um líder carismático como uma necessidade” no futuro, disse Lo Voi; [a máfia La Cosa Nostra] retornando para uma “uma descentralização de operações e tomada de decisão”, conforme ocorria, antes de Riina assumir.
Editado por Crispian Balmer e William Maclean
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