Miami Beach: Casa de férias dos gângsters americanos

“Só estou aqui pelo descanso”, Al Capone disse para as autoridades em 1928. O contrabandista de Chicago tinha acabado de comprar uma casa art déco de 36 mil metros quadrados com vista para o mar na 93 Palm Avenue em Miami Beach de um membro da família de bebidas Busch (a casa foi vendida por 7,4 milhões de dólares em 2013). A reputação do Scarface o precedia.

Moradores locais queriam saber o que o gângster mais notório da nação tinha ido fazer no seu paraíso ensolarado. Cedendo à pressão pública, o prefeito e o conselho da cidade votaram a favor de uma resolução se opondo à mudança de Capone. Tinha mais que uma pequena hipocrisia no voto: o então prefeito, Newt Lummus, era agente imobiliário nas horas vagas e tinha ajudado Capone, mostrando-lhe a propriedade.

Atrativos de Miami Beach

Os Gângsters vieram aos montes para o sul de Miami Beach por uma variedade de razões. Durante a proibição, Miami jazia uma “Corrida do Rum” – a rota da costa para destilados traficados das Bahamas. A proximidade de Miami com Cuba também a tornou um lugar conveniente para gângsters com interesses nos cassinos de Havana, como Meyer Lansky e Joseph “Joe Rivers” Silesi. Ainda, outros eram atraídos pelas apostas e vícios livres, tolerados pela polícia local. Em março de 1930, ninguém menos que Giuseppe “Joe The Boss” Masseria – o então capo di capi ou o chefe dos chefes da máfia americana – foi preso na companhia de outros mafiosos italianos e gângsters judeus num resort de apostas em Miami Beach (acabando com a noção de que “Joe The Boss” não se socializava com judeus). Dentro da Cosa Nostra, Miami Beach era considerada uma “cidade aberta”, o que significa que nenhuma família mafiosa tinha o “direito” de dominá-la.

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A maioria dos mafiosos, entretanto, vinham menos por razões criminosas do que meteorológicas. Simplesmente, Miami Beach é um lugar bonito, ensolarado e recém-desenvolvido para os nouveaux riches. Depois da Segunda Guerra Mundial, dezenas de milhares de nortistas vieram aos montes para essas lindas ilhas do oceano Atlântico. Junto com eles veio uma considerável parte de mafiosos espertos que se tornaram prósperos com contrabandos, extorsão trabalhista, tráfico de narcóticos e apostas. Ann, ex-esposa de Mike “Trigger Mark” Coppola disse que ele costumava contar centenas de milhares de dólares de dinheiro na mesa de jantar. Mike Coppola disse a ela que isso era sua parte tirada do número de loteria do Harlem, que a família Luciano tomou de volta nos anos 1930. Aquele dinheiro lhe rendeu uma linda casa de praia no número 4431 da Alton Road em Miami Beach.

A Comissão Kefauver

Em 1950, os mafiosos de Miami Beach ficaram sob o escrutínio de uma comissão parlamentar presidida pelo senador Estes Kefauver do Tennessee. Na época, o “Sindicato S&G” realizava uma grandiosa operação ilegal, que resultou no aparecimento de 200 apostadores pelas ruas. Poucas pessoas ficavam chocadas sobre haver apostas ilegais rolando no Sunshine State. A Flórida já havia legalizado máquinas de caça-níqueis além de apostas com corridas de cavalos e cachorros. Mais complicado mesmo era a habilidade do Sindicato S&G de se proteger dos fortalecimentos da lei através de sutis corrupções. “O Sindicato S&G operava com a proteção do Departamento de Polícia de Miami Beach e do xerife Dade County”, acusava a Comissão Kefauver.

O Hotel Fointainebleau e a permanência dos gângsters em Miami Beach

Fontainebleau Hotel Miami em 1950

Postcard, Fontainebleau Hotel Miami em 1956

A publicidade dificilmente desacelerava os gângsteres de Miami. Quando o Hotel Fontainebleau abriu em 1954, o épico hotel resort rapidamente se tornou um destino popular para os gângsteres de todo o país. Seus hóspedes geralmente incluíam gângsteres vindos de outras cidades como Paul “Skinny” D’Amato, de Atlantic City e Isadore “Kid Cann” Blumenfeld, de Minneapolis. O mafioso Joe Fischetti trouxe o grande talento da época, Frank Sinatra, para o Fontainebleu; o apostador Max Eder era uma figura regular nas salas de cartas. Depois, gângsteres mais velhos começaram a povoar a população aposentada do sul da Flórida. Tanto que nos anos 1980, gangsteres idosos como Vincent “Jimmy Blue Eyes” Alo e seu amigo íntimo de longa data Meyer Lansky podiam ser vistos passeando por Miami Beach, aproveitando o sol e a brisa do mar.

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