COSA NOSTRA: Regras, Deveres e Restrições dos Homens de Honra

A primeira regra do homem de honra é aquela do silêncio. Não pode se revelar aos outros, não pode dizer que é um mafioso. O homem honrado sempre sabe exatamente como se comportar. Em uma sociedade fundada sobre a discrição, a palavra dita ou não dita é tudo. Pode fazer a diferença entre a vida e a morte. 

O homem honrado fala pouco e ouve muito. Mas quando fala com outro homem de honra tem a obrigação de dizer sempre a verdade: essa é outra regra da Cosa Nostra. É para a circulação interna das notícias. É necessário que dentro da organização haja informação confiável. 

Mas as regras são feitas para serem quebradas, mesmo no ambiente mafioso. Homens de honra não dizem a verdade quando estão em conflito uns com os outros, não dizem a verdade quando querem enganar ou quando os chefes da organização querem esconder de seus membros algum assunto delicado. 

Quando o homem de honra faz algo que é considerado grave ou está errado, é morto. Se, em vez disso, a falha cobrada for pequena, é retirado do clã ou posto fora da confiança. No primeiro caso, o retirado não sabe a razão pela qual foi excluída da família, o segundo, sim, e é informado pelo ‘capodecina’. 

Houve também chefes, de grande poder concentrado, mas que, mesmo assim, foram retirados. Por exemplo, Tommaso Buscetta, obviamente antes do arrependimento, sofreu afastamento por causa da sua vida sentimental muito movimentada (três esposas e muitas amantes): um tipo de vida que Cosa Nostra não aceita. 

A Cosa Nostra é um mundo cheio de regras, regulamentos e diretivas 

Tudo para ser observado em relação aos escrúpulos pessoais. O homem honrado, por exemplo, nunca pode se apresentar sozinho a um outro homem de honra.  

A razão é simples: nenhum dos dois teria a certeza para falar com um pertencente da organização, certo? Deve haver sempre um terceiro homem de honra, que conheça ambos e ateste que são homens de honra, dando garantia disso. Normalmente, a terceira pessoa a apresentar um homem de honra a outro diz: “Ele é como nós.” Ou: “Este é a mesma coisa. 

Cosa Nostra: deveres e restrições

Quais são as obrigações dos homens de honra? 

Há muitas, mas algumas são mais importantes que outras. Foram aplicadas há mais de século e ainda hoje são válidas. No final de 2007, no abrigo do chefe de Palermo Salvatore Lo Piccolo que estava foragido há 27 anos, foi encontrado um caderno com as regras de Cosa Nostra. Uma espécie de prós e contras a serem abordados, àqueles que, antes ou depois, teriam tido a honra de fazer parte da organização. 

É um extrato daquilo que poderíamos chamar de a Carta Constitucional da Cosa Nostra, regras que existiam na década de trinta, quando revelou Melchiorre Allegra (um médico de Gibellina que confessou à polícia sua adesão na organização mafiosa), que existia no tempo de Tommaso Buscetta e que existem na Cosa Nostra dos últimos anos.  

A proibição mais categórica para homens de honra é recorrer à justiça: denunciar, acusar alguém, testemunhar. O homem de honra nunca pode se voltar para o Estado para resolver um problema. Exceto em um caso: se sofre o roubo de um automóvel. Se o carro de um mafioso for roubado, pode entrar em uma delegacia de polícia e denunciar: assim, se com aquele automóvel o ladrão cometer um crime, ele estará seguro. 

Outra proibição é o sequestro de pessoas: a partir da segunda metade dos anos 60, a Comissão da Cosa Nostra decide que na Sicília não se podia  sequestrar pessoas. O Corleonesi, com o conhecimento das outras famílias, tinha acabado de sequestrar Luciano Cassina, o filho do grande empresário de Palermo. Em anonimato, Luciano Leggio organizava sequestros em Milão e na Lombardia. 

Naquele momento, a Comissão de Palermo decide: nada de sequestros porque causam medo e tensão social, submetendo a Cosa Nostra a uma pressão investigativa e, acima de tudo, nada de sequestros porque – este é o pensamento da máfia – “A população é hostil a esse tipo de ação e estamos com o povo e não contra o povo”. 

Outra proibição é o gerenciamento do negócio da prostituição: fazer dinheiro com sexo tem sido sempre desonroso para os homens de honra sicilianos, ao contrário daqueles da Cosa Nostra Americana que enriquecem com as “garotas”. E o mesmo se aplica aos jogos de azar e agiotagem. 

Nos últimos anos, no entanto, a Cosa Nostra pede dinheiro de proteção aos jogadores e aos agiotas de Palermo. A Máfia não gerencia casas de jogo e não empresta dinheiro para agiotas, mas, de uma maneira ou outra, “i piccioli” (dinheiro) do jogo de azar e agiotagem, sim. 

Carta Constitucional da Máfia Siciliana

As regras de adesão mostram grande atenção aos valores morais e sexuais: 

• O chefe da família é eleito pelo voto de todos os membros da Família; 
• O vice-chefe é chamado pelo chefe da Família. Assim também o capodecina; 
• O chefe da Família é aquele que dá a última palavra; 
• O Conselheiro tem o papel de manter todos unidos na Família. E dá conselhos para o bem da família; 
• O mandamento é uma família que tem um lugar na Comissão; 
• A Comissão é composta por todos os chefes do mandamento. É constituída para exercer um equilíbrio nas famílias e na Cosa Nostra e para decidir os fatos mais delicados e as decisões a ser tomadas; 
• Não pode se apresentar sozinho a outro amigo nosso se não houver um terceiro para fazê-lo; 
• Não se olha para as esposas dos nossos amigos; 
• Não se faz comparações com policiais. Não frequentam bares nem clubes; 
• Tem o direito – a qualquer momento – de estar disponível à Cosa Nostra, mesmo que sua esposa esteja prestes a dar à luz; 
• Deve respeitar as esposas. Não se pode se apropriar do dinheiro de outros e de outras famílias; 
• Não é possível ingressar na Cosa Nostra quem tem um parente próximo nas várias forças da ordem, quem tem traição sentimental na família, quem tem um mau comportamento e/ou que não tem os valores morais. 

O que achou de conhecer melhor sobre regras, deveres e restrições dos Homens de Honra? Deixe seu comentário logo abaixo. Até a próxima, ciao!