Contrabandistas – os famosos bootleggers. Entre janeiro de 1920 e abril de 1933, a Lei Nacional de Proibição, também conhecida como Lei de Volstead, entrou em vigor na América. Proibia a manufatura ou venda de quaisquer bebidas com conteúdo alcoólico maior que 0.5%. Isso não casou bem com o público e sua opinião, em geral. Contrabandistas canadenses, traficantes de rum e, eventualmente, mafiosos ganhavam renda dessa droga. As vendas ilegais de bebidas alcoólicas era negócio grande. As pessoas eram sedentas. Contrabandistas e traficantes de rum estavam na parada pra satisfazer essas necessidades.
Como tudo começou
A Proibição tinha estado nas mentes daqueles envolvidos no movimento de temperança (autocontrole ou abstinência total de bebidas alcoólicas). Bem antigamente, em aproximadamente 1700, houveram esforços organizados para controlar o consumo de álcool nos Estados Unidos. De primeira, a maior parte dos grupos de temperança advogava a favor da moderação ao invés da abstinência de beber bebidas alcoólicas. Iniciando em 1825, Protestantes evangélicos avançaram com a cruzada de temperança, defendendo que a abstinência era o único caminho para deter a embriaguez. Muitas mulheres se envolveram no movimento e participaram fundamentalmente na promulgação da Proibição de 1920. Foi assim porque eram vítimas frequentes de abuso advindo do álcool, o qual seus maridos ingeriam e eram estimulados à violência doméstica.
A Proibição na década de 1920 começou com uma medida de reforma da qual os Progressivos foram os pioneiros. Tanto o Partido Democrata como o Partido Republicano alegavam possuir uma porção considerável de Progressivos, naquela época. Aquilo que buscavam era soluções governamentais para problemas sociais. A meta principal da Proibição de 1929 foi controlar os hábitos de embriaguez de trabalhadores. A comunidade de negócios, claro, anuiu. Eles queriam homens sóbrios hard working, para incrementar na produção.
A coisa toda acabou por ser um falhanço. A ação legal da déc. de 1920 sobre a Proibição era um pesadelo. Elementos criminosos viram lucros enormes no contrabando. A força ativa policial, em geral, era vista de modo desfavorável por um bom punhado da população, sem contar que acreditava-se que as organizações do crime organizado tinham muitos policiais em suas folhas de pagamento.
A Linguagem
BOOTLEGGING – Bootlegging (ou contrabando) era considerado o transporte e distribuição ilegais de licor, comumente advindo do Canadá ou de outros países estrangeiros. O termo vem da prática de esconder frascos de licor ilícitos em botas sob pernas de calça. O contrabando se tornou uma indústria lucrativa na América, particularmente para os sindicatos do crime organizado.
RUM RUNNERS [os traficantes de rum] – Um rum runner era um contrabandista [bootlegger], porém o termo se refere, mais especificamente, ao barco ou indivíduo engajado em levar o licor proibido através da fronteira ou da praia para a terra firme. Os traficantes de rum eram grandes marinheiros e difíceis de se pegar. Quando a guarda costeira se aproximava bem, os traficantes simplesmente se encaminhavam por outras rotas. Eles geralmente conseguiam ficar um passo à frente da lei.
MOONSHINE – Moonshine é licor destilado feito numa destilaria não licenciada. O nome foi dado devido a contrabandistas e destiladores Apalaches de outrora, os quais produziam secretamente e distribuíam uísque à luz do luar. Também chamado de licor alcoólico [hooch], orvalho montês ou relâmpago branco, o moonshine foi grande negócio, durante a Proibição. Agentes que encontravam e destruíam destilarias durante a década de 1920 eram chamados de “revenuers” [“recém-chegados”], já que, inicialmente, faziam parte do IRS – Serviço Interno de Recém-Chegados [sigla em Inglês].
SPEAKEASIES – Speakeasies [algo como “fala-mansas”] eram estabelecimentos ilegais que serviam cervejas, vinhos e álcool durante a Proibição. Para que um freguês sedento entrasse em um, uma palavra-passe secreta, um aperto de mão especial ou uma certa batida na porta era exigido. Dentro dos fala-mansas uma nova cultura brotou. Mulheres deixavam seus espartilhos caírem, fumavam cigarros e bebiam. Aqui, também, a “era do jazz” aflorou. Era a era de Louis Armstrong, Ethel Waters, Duke Ellington e Hoagy Carmichael. A força tarefa de lei federal tinha trabalho em tempo integral na busca e fechamento de fala-mansas, mas nunca conseguiram lhes abolir.
A Política
Era chamada de “Experimentação Nobre”. Consistia numa tentativa do governo em fazer as pessoas pararem de beber. O experimento não funcionou e apenas propeliu o crime organizado na riqueza, fornecendo ao público sedento licor forte ilegal. Tudo isso começou quando, sob pressão vinda de grupos de temperança e organizações religiosas, o Senado dos Estados Unidos propôs a Emenda 18ª. Isso se deu em 18 de dezembro de 1917. Foi ratificada em 16 de janeiro de 1919 e entrou em vigor em 16 de janeiro de 1920. A Lei Nacional de Proibição, conhecida como a Lei Volstead, passou pelo Congresso em 28 de outubro de 1919. O presidente Woodrow Wilson a vetou, mas passou assim mesmo. O governo dificilmente conseguiu a cumprir. Por volta de 1925, havia mais de 50.000 speakeasies só em New York City. Em 5 de dezembro de 1933, sob a tutela do presidente Franklin Roosevelt, a Emenda 18ª foi revogada.
Contrabandistas famosos
WILLIAM MCCOY – William McCoy foi o traficante de rum mais famoso da Proibição. Um abstêmio de álcool por completo, o Capitão McCoy era orgulhoso do fato de que nunca pagara um centavo para políticos, para o crime organizado ou para a polícia, por proteção. McCoy era um talentoso capitão marujo que tinha fama de ser “o infrator honesto”. Era conhecido por vender apenas álcool limpo e sem desvio. O capitão McCoy foi capturado em 23 de novembro de 1923 pela Guarda Costeira dos Estados Unidos.
JOE KENNEDY – Embora jamais tenha sido provado que Joe Kennedy fez algum ato ilegal, ele foi uma vez tido por “Contrabandista Batista”. Homem de negócios e pai do presidente dos EUA John F. Kennedy, Jeseph Kennedy fez muito dinheiro durante a Proibição. Era cliente de Rocco Perri, que, junto de sua esposa, administrava boa parte da atividade de contrabando a partir do Canadá. No dia em que a Proibição terminou, Kennedy vendeu todo seu estoque legalmente e fez milhões de dólares de lucro.
AL CAPONE – Al Capone foi o mais notável dos contrabandistas. Prosperou com vendas de álcool contrabandeado, bem como com prostituição, desvios de dinheiro, apostas ilegais e outras atividades ilegais. Como mafioso de Chicago, Capone construiu um império de contrabando. Ele se especializou e uísque escocês advindo do Canadá e simplesmente comprava qualquer um que se metesse em seu caminho.
Al Capone atraiu muita imprensa naqueles dias e foi quase visto como um emblema nacional.
JAY GATSBY – Jay Gatsby é um personagem fictício em O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald, porém ele representa o estilo de vida alcançado por contrabandistas proeminentes durante a Proibição. Nenhum dos outros personagens no romance questiona seu passado sombrio, mas absorvem a sociedade decadente, aonde riqueza e status imperam. A vida de Jay Gatsby é uma alegoria de um tempo superficial, no qual a pessoa pode ficar rica de forma bem rápida mesmo – contrabandeando bebida alcoólica.
The Bootlegger’s Lament (O Lamento do Contrabandista)
I was going down the river to my little cabin home
The revenue man was waiting there for me
I was coming up the hill when they caught me with the still.
Now I’ll see you when the roses bloom again.
They took me to the courthouse. The old judge was there.
He didn’t show me any sympathy
Said “you were feeling very frisky when they caught you with the whiskey”,
Now I’ll see you when the roses bloom again.
They took me to the jailhouse to serve my ninety days
And now I’m on the county rolls to stay.
I was feeling very fine when they caught me with my wine.
Now I’ll see you when the roses bloom again.
When the roses bloom again beside the river,
And the revenue men all have gone to rest,
Then I know I’ll soon have wine, so be patient, pal of mine,
And I’ll see you when the roses bloom again.
When the roses bloom again beside the river,
And the robin redbreast sings his melody,
Then my heart will fill with cheer for I know I’ll soon have beer,
And I’ll see you when the roses bloom again.
(Tradução livre):
Estava indo rio abaixo para minha casinha de barco
O cara “recém-chegado” estava esperando por mim lá
Eu estava subindo a colina quando eles me pegaram com os destilados
Agora só vou te ver quando as rosas florescerem novamente.
Eles me levaram para o tribunal. O velho juiz estava lá.
Ele não me mostrou simpatia alguma
Disse “você estava bastante serelepe quando eles pegaram você com o uísque”,
Agora só vou te ver quando as rosas florescerem novamente.
Eles me levaram para a prisão para cumprir os meus noventões
E agora estou contando meus dias de vez.
Eu estava me sentindo muito bem quando eles me pegaram com meu vinho.
Agora só vou te ver quando as rosas florescerem novamente.
Quando as rosas florescem novamente ao lado do rio,
E todos os homens “recém-chegados” forem descansar,
Então eu sei que logo terei vinho, então seja paciente, meu chapa,
E eu te verei quando as rosas florescerem novamente.
Quando as rosas florescem novamente ao lado do rio,
E o pisco de peito vermelho cantar sua melodia,
Então meu coração se encherá de alegria porque eu sei que em breve terei cerveja,
E eu te verei quando as rosas florescerem novamente.
O contrabando de álcool hoje
Por várias razões (incluindo a evasão de impostos e preços mínimos para compra), o contrabando de álcool ainda é uma preocupação de nível mundial.
Nos Estados Unidos, o contrabando de álcool não terminou com a revogação da Proibição. Nos Estados Unidos Apalaches, por exemplo, embora a demanda por licor moonshine fosse deveras alta por um bom tempo, na década de 1920, uma era de contrabando desenfreado em áreas secas continuou nos anos ’70. Embora os contrabandistas bem conhecidos da ordem do dia não pudessem estar mais com negócios ativos, o contrabando ainda existe, mesmo que numa escala menor. O estado de Virgínia tem relatado que perde cerca de até 20 U$D milhões devido ao contrabando ilegal de uísque.
O Governo do Reino Unido falha em coletar uma soma estimada em 900£ milhões em impostos devido a atividades de contrabando de álcool. Absinto era contrabandeado nos Estados Unidos até que foi legalizado em 2007. O rum cubano é também, às vezes, contrabandeado para os Estados Unidos, contornando o embargo existente desde 1960.
Muitos assuntos, histórias e particularidades interessantes sobre o Contrabando nas Américas ficaram de fora mas serão abordadas nos próximos artigos.